Virada Cultural de BH é marcada por manifestações políticas
Na 5ª Virada Cultural de Belo Horizonte, realizada durante o final de semana, a ocupação do espaço urbano com eventos artísticos se mostrou, mais uma vez, um ato político. Em consonância com o clima de polarização que domina o país, demonstrações pró e contra o cancelamento da performance Coroação de Nossa Senhora das Travestis, da Academia TransLiterária – anunciado na sexta (19), por decisão do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, acolhendo pedido de grupos católicos que consideraram o espetáculo um ato de blasfêmia e ofensa religiosa – marcaram o evento ao longo de suas mais de 24 horas, a partir das 19h de sábado (20).
No Palco Guaicurus a reação ao corte veio de Marcelo Veronez, que leu, durante seu show Não sou nenhum Roberto (que contou com a participação de Odair José) a oração da Nossa Senhora das Travestis, que o TransLiterária havia enviado para artistas locais, com o pedido de que o lessem e pedissem réplica do público.
Na Praça da Estação, palco que concentrou o maior público da Virada, Daniela Mercury, principal atração do sábado, homenageou o Nordeste, em resposta à declaração do presidente Jair Bolsonaro, que usou o termo “paraíba” para se referir aos governadores da região, em conversa com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A cantora baiana citou vários artistas nordestinos e disse “salve o povo do Nordeste, salve o povo brasileiro e todos os brasileiros que amam esse lugar”, antes de cantar Paraíba, de Luiz Gonzaga. “O povo negro quer exuberar, como os LGBTs”, disse a baiana mais tarde, lembrando de outras lutas.
Se durante a noite a Virada é música e protesto, de dia rola de tudo, na maior tranquilidade. No Parque Municipal, o domingo teve início com a Viradinha, com atrações para as crianças, e atividades esportivas e de bem-estar, como massagem e aula de yoga. Já na Avenida Assis Chateaubriand houve um simpático encontro dos adeptos dos carrinhos de rolimã. Na Guaicurus, à tarde, foi a vez de uma atração que se popularizou na Virada: a Gaymada.
A expectativa da organização da Virada Cultural era atrair 500 mil pessoas mas a PBH não divulgou uma estimativa do público. O orçamento para promover as mais de 400 atrações em 25 palcos no Hipercentro de BH foi de R$ 2,5 milhões.