Temido e odiado, muitos clubes torcem pelo rebaixamento do Cruzeiro
O Cruzeiro precisará de uma combinação de resultados para escapar do rebaixamento na rodada final do Campeonato Brasileiro. Além de vencer o Palmeiras no domingo (08/12), às 16h, no Mineirão, o time celeste precisará contar com uma derrota do Ceará diante do Botafogo, no mesmo horário, no Rio de Janeiro.
O Cruzeiro está na 17ª posição, com 36 pontos, dois a menos que o Ceará, o 16º colocado. Se vencer ou empatar com o Botafogo no Estádio Nilton Santos, o Ceará decretará o primeiro rebaixamento da história do Cruzeiro, independentemente do resultado da partida de Belo Horizonte.
Adversário do Ceará no domingo, o Botafogo precisa da vitória na rodada final para tentar garantir classificação à Copa Sul-Americana de 2020. O clube da Estrela Solitária é o 15º, com 42 pontos, e disputa a vaga com o rival Fluminense, o 14º, com 43.
Já o Palmeiras, adversário do Cruzeiro, lutará por um triunfo no Mineirão para tentar superar o Santos e terminar o Campeonato Brasileiro na segunda posição. Os dois clubes têm 71 pontos, mas o Peixe leva a melhor no número de vitórias (21 a 20).
Entre clubes, muita torcida pela queda da raposa
Por que há tanta torcida para o rebaixamento do Cruzeiro à Série B do Campeonato Brasileiro? O que o time mineiro fez para deixar tantas torcidas desejosas de sua queda para a segunda divisão do futebol nacional?
Algumas dessas questões podem ser respondidas pelo modelo de gestão de confronto do clube diante dos rivais estaduais(Atlético-MG e América-MG) e também nacionais, mais notadamente nos últimos anos com embates diretos com Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Vasco.
Outros fatores de antipatia podem ser ligados à gestão desastrosa do clube comandado desde 2018 por Wagner Pires de Sá, tendo como fiel escudeiro, Itair Machado, ex-vice de futebol, figura polêmica que nunca recusou uma provocação contra rivais, entidades e até mesmo dentro do clube.
O ranço dos rivais em relação à Raposa aumentou nos últimos anos, principalmente por declarações polêmicas de dirigentes, jogadores, gestão temerária, fama de mau pagador, e claro, pelas conquistas em âmbito nacional contra equipes com maior poderio financeiro do que o Cruzeiro.
O Cruzeiro sempre teve um volume de conquistas fora de Minas que se emparelha com os demais gigantes do futebol brasileiro, tendo em sua prateleira praticamente tudo que um clube pode ganhar em sua galeria.
O time celeste possui na sua sala de troféus Copa Libertadores(duas), Campeonato Brasileiro(quatro), Copa do Brasil(seis),Mineiros(38 canecos) Supercopa da Libertadores(duas), Recopa Sul-Americana(uma), para citar somente os mais relevantes.
Com esses ingredientes, elencamos alguns possíveis motivos de torcedores e clubes estarem ansiosos para ver o primeiro rebaixamento da equipe mineira em sua história. Fizemos uma lista de “inimigos” mais diretos e de antipatias gerais que os demais torcedores criaram em relação ao Cruzeiro Esporte Clube.
“Empate” nos rebaixamentos: o maior rival do Cruzeiro caiu em 2005 e jogou a Série B de 2006, o que ainda gera muito desconforto em seu torcedor, lembrado com frequência da fatídica queda à segunda divisão. A Raposa jogar a segundona em 2020 “empataria” o vexame entre os dois clubes.
Galo quer “empatar” o vexame do rebaixamento, quando caiu em 2005- (Foto:Gil Leonardi/Lancepress!)
Inimigo 02: América-MG-Por que quer a queda?
Não é só para ter companhia na Série B 2020: o Coelho sempre teve uma relação conturbada com o Cruzeiro, com acusações de aliciamentos de jogadores do profissional até a base.
Recentemente, os dois clubes travaram uma batalha pelos direitos do jovem Vitor Roque, de 14 anos, que jogou pelo América até o fim de 2018, mas deixou o clube e foi parar na Toca da Raposa. O time americano acusou o Cruzeiro de aliciar o jogador e o caso foi parar no Ministério Público.
Vitor Roque foi disputado pelos clubes e o caso foi parar no MP-(Divulgação/América-MG)
Inimigo 03: Flamengo-Por que quer a queda?
Derrotas em campo e provocações desmedidas: a perda do título da Copa do Brasil de 2017, na final, e a eliminação na Libertadores de 2018, acirraram os ânimos dos dois clubes. Além das disputas no campo de jogo, com provocações, Flamengo e Cruzeiro protagonizaram um dos maiores embates do ano pela negociação do meia Arrascaeta, que deixou a pré-temporada em BH, foi para o Uruguai, com a ajuda do seu agente para negociar com o Rubro-Negro.
O caso gerou uma transação complicada, com o ex-vice-presidente de futebol da Raposa, Itair Machado, colocando o jogador contra a torcida, que o taxou de traidor e mercenário. Itair aumentou o volume nas críticas ao Fla e “tirou sarro” dizendo que a saída do uruguaio não seria sentida, pois conseguira contratar Rodriguinho, que na sua visão, era melhor do que Arrasca.
A temporada mostrou o contrário, com Arrascaeta sendo estrela nos títulos Brasileiro e da Libertadores do Fla e Rodriguinho jogando pouco, passando a maior parte do ano lesionado.
Itair chegou a dizer que Rodriguinho seria melhor que o uruguaio-(Reprodução)
Inimigo 04: Palmeiras-Por que quer a queda?
Derrotas em campo e mais provocações: os dois Palestras, do de Minas e o paulista sempre tiveram duelos e times memoráveis na história. Todavia, de 2017 para cá, a rivalidade cresceu, porque o Palmeiras, com um elenco mais vistoso e caro, caiu para a Raposa em duas Copas do Brasil seguidas, nos anos de 2017 e 2018.
As eliminações geraram muitas brincadeiras e trocas de provocações entre as diretorias, técnicos e uma briga entre jogadores, que terminou com uma pancadaria ainda lembrada por muitos.
Principalmente pelo soco que o atacante Sassá deu no lateral Mayke na partida de volta das semifinais de 2018, que à época ainda era jogador da Raposa e estava emprestado aos paulistas. A briga acelerou o processo de venda de Mayke para o time alviverde, que não tinha mais ambiente em BH.
A briga acelerou a venda de Mayke para o Palmeiras -(Fernando Calzzani / Photopress)
Inimigo 05: Corinthians-Por que quer a queda?
Reclamações de favorecimento à Raposa na final da Copa do Brasil de 2018: o jogo final que deu o bicampeonato do mata-mata nacional para os mineiros, diante do Timão, teve uma grande polêmica, quando Pedrinho marcou o segundo gol do Corinthians, que estava vencendo por 1 a 0. O 2 a 0 seria o resultado ideal para a conquista do Timão.
Entretanto, o gol foi anulado e o Cruzeiro virou o jogo e saiu de campo vencedor mais uma vez da Copa do Brasil. O gol anulado de Pedrinho, após uma falta sobre Dedé anotada pelo VAR, criou um rixa entre os torcedores dos dois clubes e até com o agente do jogador corintiano, Will Dantas, dizendo que queda da Raposa será o “troco” pelo título “roubado” do ano passado.
O gol anulado de Pedrinho em 2018 na final da Copa do Brasil, ainda gera discussões-(Marcello Fim/Ofotografico)
Inimigo 06: Vasco-Por que quer a queda?
Provocações e declarações ofensivas ao clube: no mês de outubro, quando o time já estava em situação delicada o Brasileiro, Zezé Perrella, que é presidente do Conselho Deliberativo e foi trazido para ser o gestor de futebol no lugar de Itair Machado, iniciou sua gestão no cargo atacando o Vasco, ao dizer que o Cruzeiro “está caminhando a passos largos para virar um Vasco da Gama, uma Portuguesa”.
Perrella quis se referir aos três rebaixamentos do Cruzmaltino(2008, 2013 e 2015), gerando uma torcida extra pelo rebaixamento por parte dos vascaínos. Alexandre Campello, presidente do Vasco, disse que Perrella deveria se preocupar mais com as questões pessoais dele e com o próprio Cruzeiro, ao invés de citar o time carioca.
A rixa entre os dois clubes é um pouco mais antiga e remete aos tempos de Eurico Miranda como presidente vascaíno, que sempre trocava “farpas” com Perrella nos anos 1990, quando o dirigente azul era presidente.
O presidente do Vasco rebateu a fala de Perrella sobre o clube-(David Nascimento/Lancepress!)
Inimigo 07: Torcedores de outros clubes-Por que querem a queda?
Fama de mau pagador, arrogância, e provocações: o clube celeste está em grave crise financeira, com atrasos de salários, dificuldades de quitar compromissos com outros clubes, como a compra de jogadores. A Raposa tem várias processos na FIFA, sendo acionada por não pagamento a vários times, brasileiros e estrangeiros.
A dívida total da Raposa somente na FIFA passa dos R$ 60 milhões, o que pode acarretar perda de pontos, rebaixamento e punições administrativas como não poder contratar nenhum atleta por duas janelas de transferências.
Outras “birras” que a Raposa vem gerando no torcedor em geral é sua postura diante das dívidas e declarações de soberba em relação aos outros clubes, que criaram o ambiente para que a Raposa seja o alvo preferencial para a queda à Série B neste momento.
Rivais se unem para torcer para a queda da Raposa-(Reprodução)
Bônus: figuras polêmicas que aumentam o “ranço” dos rivais
Thiago Neves: além dos itens citados acima, há algumas figuras que geram alguma revolta nos torcedores rivais. Entre elas, estão o meia Thiago Neves, que sempre foi provocador nas vitórias e até mesmo antes delas. Thiago também gerou polêmica com postagens de gosto duvidoso, como a comparação de uma barragem no CT do Galo com a da Vale, em Brumadinho, que matou mais de 280 pessoas.
O meia conseguiu gerar antipatia em rivais e atualmente até em cruzeirenses. que o acusam de ser o principal responsável pela má fase na temporada por ter criado uma “panela” com outros atletas como Robinho e Edílson, forçando a demissão de Rogério Ceni, que tentava afastá-los do time.
Itair Machado: o ex-vice de futebol era falastrão e provocava tudo e a todos quando tinha chance. Se envolveu em polêmicas com a Federação Mineira de Futebol, com outros clubes como o Flamengo, dentro do clube, quando foi acusado de ser o pivô da atual crise, além de ser taxado como protetor dos jogadores medalhões, que estavam ganhando muito e pouco produzindo em campo. Sua saída foi vista como a única forma de apaziguar os ânimos na política cruzeirense.
Zezé Perrella: ex-senador, deputado estadual e federal, Perrella milita no clube desde os anos 1990, quando foi presidente em diversos mandatos, com títulos, mas angariando muitos desafetos, que ainda o veem como uma figura controvertida no clube. Suas falas recentes e atuação como político criam uma antipatia ao seu redor e o desejo da Raposa ser rebaixada.
Itair gerou atrito dentro e fora do clube na sua passagem como vice de futebol-(Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Bônus extra: denúncias de irregularidades financeiras e endividamento do clube
A reportagem feita pelo “Fantástico”, em maio, revelou que o Cruzeiro estava mais do que em dificuldades financeiras. O “buraco” era mais embaixo, pois seus diretores estão sendo acusados de desvios de dinheiro, irregularidades financeiras, cessão proibida de direitos de atletas, gestão temerária, fraudes fiscais e de contratos de prestação de serviços. Outra acusação era a “carta branca” que Wagner dava a Itair Machado agir no clube, sem qualquer fiscalização ou interferência.
A imagem do Cruzeiro ficou muito arranhada no mercado do futebol e para tentar reduzir os danos, vai tentar antecipar as eleições, para a saída de Wagner Pires de Sá, que pretendia um novo mandato, mas não possui ambiente para outro seguir no cargo de mandatário do clube.
Reprodução: Site terra.com.br