Flamengo atropela o Grêmio e volta a uma final de Libertadores após 38 anos

No blog de Rodrigo Matos: “Flamengo resgata o prazer do brasileiro de assistir futebol”

Com mais um atuação de gala do seu ataque, o Flamengo atropelou o Grêmio em um Maracanã praticamente lotado e garantiu seu retorno à final da Copa Libertadores após 38 anos. O time carioca goleou o rival gaúcho por um contundente placar de 5 a 0, na noite desta quarta-feira (23/10), e selou sua classificação à decisão, após empate por 1 a 1 no jogo de ida.

A goleada contrastou com o primeiro tempo do aguardado duelo, em que a equipe de Jorge Jesus parou na marcação gremista. O Flamengo deslanchou somente na etapa final, com quatro gols em 25 minutos, e aplicou uma surpreendente e sonora goleada no adversário gaúcho. O primeiro gol foi marcado ainda no final do primeiro tempo

O triunfo garantiu o Flamengo em sua segunda final da Libertadores. Na primeira, ainda em 1981, foi campeão. Na decisão deste ano, em jogo único, o adversário será o River Plate, atual campeão e com a confiança elevada após eliminar o arquirrival Boca Juniors na outra semifinal. A grande final está marcada para 23 de novembro, em Santiago, no Chile.

Enquanto o Flamengo busca o bi da Libertadores, o River Plate, que é tetracampeão da competição e duas vezes vice, vai encarar a sétima final. Mas essa será apenas a segunda vez que enfrentará um time brasileiro. A outra foi diante do Cruzeiro, em 1976, quando foi derrotado pela equipe de Belo Horizonte.

 

Sobre a atuação do flamengo na temporada, confira o comentário de Rodrigo Matos

Ao se assistir ao Flamengo no estádio, é perceptível que não há nada de aleatório no time. Os movimentos e posicionamentos fazem sentido, as jogadas são executadas como se ensaiadas fossem, os jogadores sabem todos o que têm de fazer e são hoje melhores do que eram há dois, três meses. O futebol é intenso, empolgante, vertiginoso. É o efeito do técnico Jorge Jesus.

Essa é a explicação pragmática que se atém ao que faz uma equipe de futebol funcionar (ou não). Há outra análise pertinente a partir daí que é: o que esta equipe representa na história recente do futebol brasileiro e se deixará um legado.

Conversei sobre isso com o colega PVC, uma das nossas melhores cabeças para o assunto, em um Maracanã em êxtase. Ele me lembrou o Santos de Neymar como um time tão móvel no ataque quanto esse do Flamengo. Eu lembrei do Cruzeiro de 2013/2014 como um time tão dominante no Brasileiro, e também uma máquina ofensiva.

Bem, esse Flamengo é melhor do que aquele Cruzeiro, por ter jogadores mais dotados tecnicamente e por jogar com ousadia quase o tempo inteiro. E aquele Santos tinha um craque que o Flamengo não tem em Neymar, mas não tinha o nível igual em todas as outras posições, nem a exuberância na movimentação ofensiva.

Difícil colocar marcas de tempo, anos, década. Mas a verdade é que não víamos um time que nos desse prazer como esse Flamengo há um longo período.

E por que? Não nos faltam, nem faltavam, talentos. Mas estamos estagnados, incapazes de repetir o futebol belo de um passado distante porque já não cabia em um esporte que se modernizou e igualmente incapazes de reproduzir a nova beleza que se criou lá fora. Estamos como artistas decadentes olhando um concerto de um novo talento da calçada.

E então um português veio nos mostrar – e antes um argentino no Santos com um elenco inferior, diga-se – que podemos voltar a sentir prazer no futebol. Que futebol não é saber sofrer é saber desfrutar.

Veja o jogo diante do Galo. Havia ali uma linha de cinco defensores atrás, outra de mais quatro à frente e um atacante. Em dado momento, o Atlético-MG meteu 11 na área. Justo se assim lhe apetece.

O Flamengo trabalhava a bola, nenhum chuveirinho daqueles de qualquer jeito. O passe da ponta era para o canto da área, a triangulação pela lateral, até achar o espaço preciso, como quem desenha ângulos com jogadores nos lugares de esquadros e compassos.

Esse mecanismo era em favor desse talento individual que tanto produzimos e vendemos para fora. Vitinho acha um drible e um chute, um garoto de 17 anos mata o jogo, e Arão ganha todas as bolas com a facilidade de quem joga com crianças porque está sempre no lugar certo.

Ao final, Jesus observou que seu trabalho só criará raízes no futebol brasileiro se for vencedor. É fato, aqui só se acredita na vitória. Mas já não se pode negar que o português nos trouxe de volta algo que havíamos perdido, esse prazer de ver uma graça no futebol, algo que nos enche os olhos para além do pragmatismo de vencer.

Inf. Blog do Rodrigo Matos.

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